quarta-feira, 21 de maio de 2014

À MÃE














Deste-me leite e mel. Quanta doçura
Havia em teu beijar! O teu regaço
Abria-se em segredos de ternura
E nunca se fechava de cansaço.

O berço pequenino era de pinho
Com lençóis brancos de cambraia fina
Não tinha prata ou oiro mas carinho
Da preciosa fada que destina.

Às vezes eu fugia pra brincar
Nas margens dos teus olhos vigilantes
E logo ouvia a tua voz chamar.

Agora pelas nuvens inconstantes
Meus olhos andam tristes a penar
A ver se me procuras como dantes.

Abel da Cunha

Imagem: Pablo Picasso, Maternidade

terça-feira, 6 de maio de 2014

MÍSTICO MAIO














A música sagrada era tudo
O que o silêncio lhe podia dar;
A natureza amena e o vento mudo
Cobriam-no de sono e de sonhar.

Da flauta a melodia modulava
Por entre giestas fulvas sem ruido;
Era de encanto que transfigurava
O monte verde em Maio reflorido.

De amor divino quase morreria
Se as setas de Diana o atingissem
Num silvo agudo em cálidas feridas!

Mas desse fauno a força nasceria
Em todos os sentidos se viessem
As ninfas mais humanas distraídas!

Abel da Cunha

Imagem (www)
Pál Szinyei Merse, Fauno e Ninfa