sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O BURRINHO PEDRÊS













SETE-DE-OUROS
 

Mudo e mouco vai Sete-de-Ouros, no seu passo curto de introvertido, pondo, com precisão milimétrica, no rasto das patas da frente as mimosas patas de trás.

- Escuta uma pergunta séria, meu compadre João Manico: você acha que burro é burro?

- Seô Major meu compadre, isso até é que eu não acho, não. Sei que eles são ladinos de mais…

Bem que Sete-de-Ouros se inventa, sempre no seu. Não a praça larga do claro, nem o cavouco do sono: só um remanso, pouso de pausa, com as pestanas meando os olhos, o mundo de fora feito um sossêgo, coado na quase-sombra, e, de dentro, funda certeza viva, subida de raiz; com as orelhas - espelhos da alma – tremulando, tais ponteiros de quadrante, aos episódios para a estrada, pela ponte nebulosa por onde os burrinhos sabem ir, qual a qual, sem conversa, sem perguntas, cada um no seu lugar, devagar, por todos os séculos e seculórios, mansamente amém.

 
João Guimarães Rosa
O Burrinho Pedrês, in Sagarana

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