quarta-feira, 5 de setembro de 2012

MEDITA-CÃO












Um cão esfomeado anda na rua
a farejar uns restos pra viver.
"Todo o cão é mortal - verdade crua -
E eu sou um cão, o Nero, e vou morrer.

Ah, quem me dera um naco de pão duro,
uma salsicha, um salpicão com ranço,
um osso já esburgado de um monturo,
para chegar de pé ao fatal lanço."

Nas suas patas mal sustenta o corpo
aquele cão vadio e quase morto
que dia a dia espreito da janela.

Mas se eu sair à rua que farei
de mais contrário? Só farejarei
odor de flores e uma triste estrela.


Abel da Cunha

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