sexta-feira, 4 de novembro de 2011

TEIXEIRA DE PASCOAES



TEIXEIRA DE PASCOAES
1877-1952
(Retrato de Columbano)


Vem do Marão, alta serra,
O luar da minha terra.





VIDA ETÉREA - A Sombra Humana - 1906

Quando passeio ao longo dos caminhos,
Batem asas de medo os passarinhos;
Escondem-se os reptis no tojo em flor,
Minha presença espalha um trágico pavor
Nas pobres criaturas
Que vivem neste mndo, assim como às escuras!

Avezinha fugindo ao ruido dos meus passos,
Se o que eu sinto por ti, acaso, pressentisses,
Tu virias fazer o ninho nos meus braços...
Virias ter comigo, ó pedra, se me ouvisses!


CANTOS INDECISOS - V - 1921

O Poeta é um doido errando sempre além,
Que d'este mundo, em vida, se desterra...
É o ser divino e pálido que tem
Na alma toda a luz, no corpo toda a terra.

ÚLTIMOS VERSOS - Paraísos - 1953

Temos dois paraísos: o da infância
E o da velhice;
O da flor e o do fruto,
O da loucura e o da razão.
O Jardim e o Pomar,
A Primavera, Deusa helénica,
O Outono, Deus da Ibéria.
O resto é Inverno até à Groenlândia
E Verão até ao Cabo.


DISPERSOS -Poema - 1953

Feita de sol é a carne que nos veste
Os ossos, que são feitos de luar.
E a nossa alma é sombra
A sonhar e a pensar, conforme é dia
Ou noite, pois em nosso pensamento
Esplende o sol.
Mas ao luar é que se expande
O nosso dom fantástico, esse voo
Sem fim do nosso ser
Que ultrapassa as estrelas

E alcança além do espaço a eternidade.
E o infinito, além do espaço,
E Deus, além dos deuses.


1 comentário:

Frassino Machado disse...

O Poeta, além de visionário e um pouco lunático, no dizer de muitos, é acima de tudo um profeta solidário da alma das coisas e dos seres. Ele sente-se como ninguém um convivente com a natureza e por ela e nela espelha toda a sua emotividade. As próprias palavras, em si mesmas, são como janelas por onde pode facilmente espreitar para dentro de si mesmo. Nunca ninguém, mais que Teixeira de Pascoaes, conseguiu auscultar tanto o mistério dos seres...
Frassino Machado