sábado, 29 de outubro de 2011

A CASA




















Era a fonte. Água fresca recaindo
na memória. Velho cântaro de sonhos.
Eram sombras. Nuvens térreas das árvores
com videiras enlaçadas nos seus troncos.

Permanece aceso o quarto dos brinquedos
um ioiô dançando preso nos meus dedos
um pião rodopiando no terreiro
um barquinho de papel regando a tarde.

Ah primeiro chão em que pousei os pés
aprendendo a andar com frágil equilíbrio
e a dizer palavras e a comer o pão!

Laranjeira verde que me vês ao longe
diz-me se me vês partir ou vês chegar
que mal posso olhar por trás desta saudade!

Abel da Cunha


Resposta de Ricardo de Saavedra


Lamento só hoje te agradecer
o saboroso soneto pendurado
em adivinhadas rimas que ondeiam
ao ritmo verde de saudosas brisas

demorei primeiro na fonte a adivinhar
as marfínicas mãos que enlaçavam
o cântaro dos desejos e dos sonhos
e a sombra dos seios e a boca arder de beijos

depois segui a água das palavras
sem pressa nem vontade de entender
o percurso em que de amores se perdem

casas onde entro de antigamente
pé ante pé sem gente dentro
deixam-me sempre assim lento muito lento


Ricardo

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