quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

DESERTO


Perdi o meu relógio no deserto
Que dava horas pelo meridiano
Agora tenho um coração humano
Que bate bate mas não bate certo.

Perdi a bússula que dava o rumo
E os caminhos rectos indicava
Tinha tudo pois tudo encontrava
Agora vejo tudo envolto em fumo…

É noite no deserto. Fui deitar-me
À beira duma duna já desfeita
Coberto pela areia que havia.

É noite no deserto. Vou perder-me
Se alguma estrela não vier perfeita
Alumiar a noite até ser dia.

Abel Cunha

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

PARA A MARTA













A toda a gente, alto, disse um dia:
Chegou a Marta! De tanta alegria,
Encheram-se de lágrimas os olhos,
Como acontece quando nascem filhos.

Todos disseram: seja bem nascida,
Que boa estrela lhe oriente a vida!
(É muito certo aquilo que dizeis:
Nasceu na Lapa, em noite de Reis.)

Quando pequena enchi-a de carinhos,
Andou comigo por breves caminhos.
Levei-a ao colo, se havia lama,
Contei-lhe histórias à beira da cama.

Agora é grande e o mundo é pequeno:
Não há papões ou bruxas com veneno.



Abel Cunha